455 – Parte I
“Saudades
de você, de nós e até de mim.”
Ela derretia num ônibus que se movia
como uma estufa entre o Meier e a Praça XV.
Em meio a tantos afazeres que a
aguardavam do outro lado “da poça“, arrumou uma janela para pensar. Releu suas anotações
e percebeu que escrevia muito nesse caminho.
Era nesse endereço da zona norte que
ela guardava parte da sua tranquilidade e ia buscar quando precisava.
Sentia sua vida meio fora de controle
nos últimos tempos. O zilhão de coisas a fazer pareciam a engolir, dando a
sensação de sufocamento, insuficiência e incapacidade.
Sabia que não era possível ter tudo o
que desejava. Nem desejar as coisas a qualquer preço. Muito menos as pessoas,
que não são como bibelôs, e se importam quando são colocados numa caixa no
fundo do armário.
Estava duplamente angustiada. Tinha
receio da distância ter mudado algo entre eles. A insegurança que há muito não
a visitava, começou a gritar nos seus ouvidos. Sentiu muita vontade de ouvir
aqueles sentimentos gotejados homeopaticamente por ele em forma de palavras.
Eram mais agradáveis que qualquer música que ele pudesse produzir. Foi uma
profusão de interrogações em sua cabeça. O que ela significava em sua vida?
Seria aquela relação real ou apenas produto da sua imaginação? Os intervalos de
tempo e espaço já haviam sido maiores entre eles, mas foi a primeira vez que
doeu tanto.
A outra ponta de sua angústia era uma
certa raiva de si mesma por dar tanta importância a um relacionamento. Gostaria
de não ter se perdido de vista. Sua vida havia mudado tanto nos últimos meses.
A cada dia via seus limites se estenderem para mais adiante. Mal tinha tempo
para si, quanto mais para dedicar a alguém. Não o culpava por ir embora. Ela
mesma já não estava lá.
Gostava da liberdade que oferecia, tanto
quanto de recebê-la em troca. Sabia que não havia nada a fazer para manter
alguém em sua vida. Poderia apenas oferecer um lugar e, caso fosse confortável, o hospedado poderia permanecer ali em algum canto. Sim,
Significaria que ela mesma teria que caber no centro da vida
de alguém. Lhe parecia um lugar tão apertado. Sempre que se via nessa posição,
necessitava expandir, arejar. Por isso precisava de espaço.
Precisava de tempo, de uma pausa. Não
queria sofrer agora. Só precisava de si
mesma de volta. Queria só deixar pra lá...
Angústia... ahhh... essa amiga meio inimiga que cisma de nos visitar quando já tínhamos nos esquecido dela...
ResponderExcluirLiberdade de existir,de ser de viver e vir a ser. Experimentar emoções internas. Ser-se como sou,livre,libertária ( bom sentido)às vezes brincando de rebelde.
ResponderExcluirEssa menina que me habita não cabe em você. Ah! Se você soubesse que uma carcaça não pressupõe o âmago.
Difícil ficar ao lado de quem impõe ser ser,acima de seu olhar ao outro.
Sufocada,me esvaio em dores no estômago, coração, as artérias, as veias saltam.
Pra onde vão.
Não sei. Nem quero saber por agora...nem pensar. Só ultrapassar e viver.
Eva Ganc
Uau! Que angústia cheia de musicalidade! Adorei!
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