Insights da insônia 5: as dores físicas
Tinha que acordar cedo na manhã seguinte, mas não conseguia dormir. Sua garganta estava prestes a se fechar. Sentia dor. Era dor na testa nos músculos e até, na garganta mesmo. Andava com muita dificuldade de se concentrar em qualquer coisa. Não se sentia assim o tempo todo, mas nos últimos dias, essas sensações andavam muito presentes. Sentia-se estafada. Era como se o dia tivesse mais compromissos do que horas. E, contraditoriamente, demorava muito para fazer qualquer coisa. Tinha dificuldade em sair de casa e em ficar lá. Também não conseguia estudar. Sua baixa concentração só permitia que lesse textos leves e de “tiro curto”.
Não conseguia relaxar. A última vez que havia se sentido à vontade, foi no dia que aceitou um convite para ir a um sarau. Não era muito íntima de todos os presentes, mas aquela atmosfera de vinho, poemas, subversão, contos e crônicas, fez com que se sentisse aceita. E, ao mesmo tempo também estava desnuda de qualquer auto-proteção e angústia.
Justo ela que tinha tanta dificuldade em se expor, que trazia tantos limites e censuras dentro de sua cabeça. Se comportava como em um palco 24 horas por dia. Sentia-se observada, apreciada, julgada, quase vigiada. Como se a única liberdade que tivesse, era a escolha do número que apresentaria. Escolhia de acordo com a platéia. E era muito reduzido o número de pessoas que tinham a capacidade de compreender o espontâneo, aquilo que não foi cuidadosamente preparado para ser apresentado, o que estava ainda em processo.
Essa grande familiaridade que somos forçados a ter com as mercadorias que apanhamos nas prateleiras dos mercados para o pronto uso, também a acometia. Fazia com que perdesse a dimensão dos processos da vida. Esquecia-se daquilo que há entre o inicio e o fim de tudo. Sua ânsia era tanta, que, às vezes, enxergava o fim muito antes de onde ele realmente se encontrava.
Estava um tanto perdida entre o querer e o fazer. O pior é que tinha dimensão disso. Mas saber de onde vem as angústias não resolve tudo nessa vida. No seu caso, somente deu início à batalha, que muitas vezes é interna, para arrumar tempo e paciência para dar a devida duração que tudo merece. Ou ainda, para fazer a negociação que leve ao mais próximo disso, sem se distanciar muito daquilo que, insuportavelmente conhecemos como “o possível”. Haja noite para tanta insônia!
Quando fui escrever o que senti, aqui nessa caixa branca, me vieram em jatos as palavras... "bonito", "verdadeiro", "triste". Mas eu queria mesmo era comentar do quanto eu gostei da relação entre o título e o texto.
ResponderExcluirA dor não se demora mais nem menos, do que deveria, não é verdade?
ResponderExcluirA dor é este sentido de urgência e de liberdade que você diz, tão bem.De uma violência absurda, se ter liberdade.A insônia é o tempo mesmo, da máquina ainda em funcionamento - Dói o corpo, dói a alma.E os insights, leves recitais poéticos dessa nossa procura.Gostei do seu texto, aquele abraço!