A transitoriedade da auto-imagem

Não sei em qual dos dias do mês estamos. Como se tudo ficasse desfocado à medida que de mim se distancia. A realidade se apresenta cada vez mais como um borrão. Passa pela minha cabeça uma daquelas “grandes questões da humanidade”: O que é mesmo o real?

Não me refiro à realidade grandiosa da situação mundial ou da luta entre as classes. Falo de uma realidade mais cotidiana. Aquela que é construída por mim mesma e com a qual me relaciono e que inclui não somente os que ao meu redor estão, mas, principalmente, o que está no meu interior, como me vejo. Reformulando a pergunta do parágrafo anterior: Qual a fronteira entre o que sou e o que penso ser?

Após tantas rupturas de paradigmas pessoais, me sinto como um quebra-cabeças em montagem, cujo desenho e formato das peças estão em constante mudança. Quando penso que terminei de montá-lo, percebo que o desenho não é mais o mesmo e tenho que rearranjar as peças novamente. Penso que é impossível definir o meu ser em constante mudança, como uma foto captura num milésimo de segundo a complexidade de um instante.

Há anos tenho buscado a realidade do que há no meu interior, como se tudo existisse aqui alheio a mim em algum lugar oculto. Hoje, após tantas vezes me dar conta de que meus limites não estavam exatamente onde eu pensava e da descoberta de tantas capacidades que nem imaginava, tenho duvidado daquilo que vejo quando olho para dentro. Me questiono se a imagem formada não seria produto do desejo de ver somente algo que me seja suportável. Já não bastava a realidade exterior ter tantas máscaras e ilusões, elas também instalaram-se na realidade interior?

Acreditar na mentira que conto para mim mesma deixou de ser uma opção válida, assim como na mentira que outros me contam a meu respeito. Qual seria então, se é que há algum, o ponto de apoio nessa avalanche que flui em todas as direções?

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