Tinha que acordar cedo na manhã seguinte, mas não conseguia dormir. Sua garganta estava prestes a se fechar. Sentia dor. Era dor na testa nos músculos e até, na garganta mesmo. Andava com muita dificuldade de se concentrar em qualquer coisa. Não se sentia assim o tempo todo, mas nos últimos dias, essas sensações andavam muito presentes. Sentia-se estafada. Era como se o dia tivesse mais compromissos do que horas. E, contraditoriamente, demorava muito para fazer qualquer coisa. Tinha dificuldade em sair de casa e em ficar lá. Também não conseguia estudar. Sua baixa concentração só permitia que lesse textos leves e de “tiro curto”. Não conseguia relaxar. A última vez que havia se sentido à vontade, foi no dia que aceitou um convite para ir a um sarau. Não era muito íntima de todos os presentes, mas aquela atmosfera de vinho, poemas, subversão, contos e crônicas, fez com que se sentisse aceita. E, ao mesmo tempo também estava desnuda de qualquer auto-proteção e angústia. Justo ela que
falta voz
ResponderExcluirsobra silêncio.
Depois de ver o seu recado de aniversário com um poema de Mário de Sá Carneiro acabei achando alguns poemas dele. Eu acho que dois trechos combinam bastante com o que vc escreveu:
ResponderExcluir"A minha alma não se angustia apenas, a minha alma sangra.As dores morais transformam-se-me em verdadeiras dores físicas, em dores horríveis, que eu sinto materialmente - não no meu corpo, mas no meu espírito."
"Sim, a minha pobre alma anda morta de sono, e não a deixam dormir - tem frio, e não sei aquecer! Endureceu-me toda!secou, ancilou-se-me; de forma que movê-la - isto é: pensar - me faz hoje sofrer terríveis dores. E quanto mais a alma me endurece, mais eu tenho ânsia de pensar! Um turbilhão de idéias - loucas idéias! - me silva a desconjuntá-la, a arrepanhá-la, a rasgá-la, num martírio alucinate! Até que um dia - óh!é fatal - ela se me partirá voará em estilhaços... A minha pobre alma! A minha pobre alma!..."